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Mostrando postagens de 2010

Queiras transformação

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- dedicado a @tiaracarvalho Queiras transformação. Sejas entusiasta da chama, Onde te escapa uma coisa que ostenta transformação de raízes. O espírito de criação, mestre da terra, No elã da figura, não ama nada como o ponto de mudança. O que se tranca na permanência, já está petrificado; Será que se imagina seguro no abrigo de uma decrepitude invisível? Espera: a maior dureza, à distância, adverte à dureza. Ai -: o martelo ausente se prepara! Aquele que jorra como fonte o reconhecimento o reconhece E guia em êxtase através da criação serena Que, muitas vezes, com o princípio se completa e começa com o fim. Todo espaço feliz é filho ou neto da separação, Que admiradores atravessam. E Dafne transformada em raízes, Como loureiro, quer que tu te transformes em vento. Rainer Maria Rilke , "12". "Sonetos a Orfeu"

Caixinha de música

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Se alguém quiser ouvir a minha alma Em uma música É só dar corda Em qualquer caixinha Os sons secos, cadenciados São a valsa da minha vida O suspense delicado A melancólica alegria Que, num átimo, acaba E dá voz ao silêncio... Realejo distante, vago Que conduz meu relicário Volteando no infinito Dando corda ao imaginário Eis, no cálculo das batidas, O mistério, o ciclo da vida - Que se rompe sem razão... Eu sou a bailarina do porta-joias Tateando em meu próprio mundo Na engrenagem do vazio Contudo, peço: feche a caixa Deixe-me adormecer e sonhar Com um mundo brilhante de joias Com valsinhas que nunca ouvi Até acordar Se alguém quiser ouvir a minha alma Em uma música ~Renata Ribeiro~

Ladainha

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Teu coração dentro do meu descansa, Teu coração, desde que lá entrou: E tem tão bom dormir essa criança, Deitou-se, ali caiu, ali ficou. Dorme, menino! dorme, dorme, dorme! O que te importa o que no Mundo vai? Ao acordares desse sono enorme Tu julgarás que se passou um ai. Dorme, criança! dorme, sossegada, Teus sonos brancos ainda por abrir: Depois, a Morte não te custa nada, Porque a ela habituaste-te a dormir... Dorme, meu Anjo! (a Noite é tão comprida!) Que doces sonhos tu não hás-de ter! Assim, com o hábito de os ter na Vida Continuarás depois de falecer... Dorme, meu filho! cheio de sossego, Esquece-te de tudo e até de mim. Depois... de olhos fechados, és um cego, Tu nada vês, meu filho! e antes assim. Dorme os teus sonhos, dorme e não mos digas, Dorme, filhinho! dorme, dorme, "oó"... Dorme, minha alma canta-te cantigas, Que ela é velhinha como a tua Avó! Nenhuma ama tem um pequenino Tão bom, tão meigo; que feliz eu sou! E tem tão bom dormir esse menino... Deitou-se, ali...

Escreva

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Quando se escreve, às vezes é preciso abrir mão de tudo e simplesmente ordenar-se: - escreva! Comida no forno, trabalho por fazer, hora de dormir, o que seja; o maior pecado do escritor é resistir ao imperioso chamado da pena. Mas escrever sobre o quê, ele logo se pergunta. Parece que o ato de escrever sempre tem de ter um porquê e um sobre o quê, além dos execráveis e dolorosos como e com que fim (nos dois sentidos da palavra "fim"). O próprio impulso da escrita é tão voraz e inacessível que por vezes se torna impossível pausar-lhe, fazer-lhe qualquer dessas perguntas; o máximo que se consegue é seguir-lhe o rastro, no ritmo sempre atrasado do lápis sobre o papel, da luta retardada entre a coordenação da mão e a do pensamento. "Lutar com as palavras é a luta mais vã", já dizia o nosso nobre guerreiro (e vencedor) Carlos Drummond de Andrade. O guerreiro da palavra é talvez o menos nobre e mais ensanguentado, pois sua arma fere não só os outros, mas ele mesmo, enquan...

Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades

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Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, Muda-se o ser, muda-se a confiança: Todo o mundo é composto de mudança, Tomando sempre novas qualidades. Continuamente vemos novidades, Diferentes em tudo da esperança: Do mal ficam as mágoas na lembrança, E do bem (se algum houve) as saudades. O tempo cobre o chão de verde manto, Que já coberto foi de neve fria, E em mim converte em choro o doce canto. E afora este mudar-se cada dia, Outra mudança faz de mor espanto, Que não se muda já como soía. Luís Vaz de Camões, em "Sonetos"

Leitura póstuma dos poetas sempre vivos

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Assombra-me um arrepio Ao ouvir dos versos a música, Neste sarau tardio, A soar sua beleza súbita Opera-se mágica tal Quando se encontram palavra e voz Que subleva-se calor irreal Entre os poetas lidos e nós Homenagem tão grande é esta leitura Que não podemos adivinhar-lhe a glória De revelar a mais perpétua das honras A qual dá-se, em secreto, nesta hora Pois não habita em um nome Pomposo, em ouro, num livro a luzir Mas apenas na alma de um homem Que, ao ler o poema, pôde sorrir...

nem sempre fala-se de amor

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Vai, amor Pra toda a vida Não olhes pra trás Na hora da partida Não me mande lembrança Nem carta amorosa Vivias num perfeito mar-de-rosas Te dei carinho Dei um lar O que pude enfim Não sei porque procedeste assim Agora é tarde para me pedir perdão Eu sigo a ordem Dada por meu coração Eu sei que andava fora da realidade Graças a Deus decidi Sem ter remorso, nem saudade Não chore, por favor Porque um bom perdedor não chora Reconhece a derrota Se dirige a porta Abre, diz adeus E vai-se embora Clara Nunes, a eterna morena de Angola

Imagine

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Imagine que não há céu ou inferno nos aguardando Somente imagine, por um momento Que não há julgamento Porque o ser está sempre mudando... Imagine que a vida é linda Que é sempre assim, colorida Que as palavras são vivas Que se pode viver de amor e palavra Porque o ser está sempre mudando... Imagine que somos livres Que podemos dizer o que sentimos Que podemos sentir o que queremos Que somos donos do nosso coração Porque o ser está sempre mudando... Imagine, somente imagine O que você pode ser amanhã O que você pode ser hoje O que todos podíamos ser Porque o ser está sempre, sempre mudando...
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Tu não mereces que eu escreva Tanta coisa pensando em ti Nem mesmo ignorando-o por completo Não mereces que eu escreva para ti Outro destino para as palavras, porém, Não encontro eu, enfim, E acabo voltando ao mesmo tema: O eterno retorno do sem-fim. Vejo, contudo, para ledo meu, Que tu não és tu assim! Tu és tu, és ele, és muitos Que me amaram antes e depois de ti! És pessoa, objeto, lugar És primavera, outono e verão És presente, passado e futuro Veja só! És tu, o amor! São Luís, 17/05/10
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Meus olhos só podiam ser castanhos Pois sou eu toda tão castanha, Tão comum E ao mesmo tempo, tão estranha Que outra cor, ao me fitarem, Não poderiam encontrar Senão a mais comum de todas Porém profunda e forte Como um sulco na mais antiga árvore De tronco retorcido.

separação

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Há um quê de beleza na separação Não sei por que a surpresa A vida é partida e chegada Nisto reside a sua beleza Acaso há olhar mais lânguido Do que aquele que, ansioso, Vê o amado, indiferente, passar? Há, porventura, cena mais comovente Que uma moça na janela a chorar? Na ausência mora algo de delicado Uma súbita revelação do ser que habita O mais profundo da alma Este ser que tudo perscruta e tudo conhece Que já pressentia a partida Muito antes que acontecesse

Anamorfose - ou não

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Era uma tarde chuvosa e pouco importava que alguns - principalmente crianças, sempre elas! - enfrentassem a tempestade, ela não ia arredar pé daquela mercearia. Mas logo agora, essa chuva? Não podia haver outra hora para os céus chorarem a tragédia que veem lá de cima? Ana não viu outra saída senão desacelerar seus passos, seus pensamentos (sempre tão frenéticos) e simplesmente parar embaixo do toldo da venda. O tempo - o secreto inexprimível, que não se sabe quem inventou: Deus ou o homem - revelou então sua mistura pastosa com o espaço: eis a relatividade, diante dos seus olhos! Crianças correndo e gritando na rua, trovões, um caminhão parado, xampus, balinhas, ração para gato. Os olhos de Ana passeiam para lá e para cá; às vezes encontram outros olhos e logo fogem, sem encontrar ponto onde se fixar. Ana começa, então, a ler rótulos, para não sentir o agudo pulsar do tempo passando lento... Chegam algumas pessoas no mercado, também tentando se abrigar do temporal. Alguns têm...

Arrebol

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O crepúsculo é quase uma foto de Deus A palmeira bailando ao vento Os pássaros com seus voos elípticos As flores amarelas As nuvens multiformes Todo esse belo intocável Derrama uma paz na minha alma Que só sente quem vê com o coração. O riso de uma criança quebra o silêncio Para dar um recado do Pintor da cena: "Quando a gente virar anjo, A gente vai cantar pra Deus: 'vitória! vitória! vitória!' Né, tia?" S.L., 02 de março/2010

um pedido à estrela

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Já enjoei dos meus livros, de todas as minhas músicas, de todos os meus afazeres. Já enjoei desses meus dias pálidos, de emoções fracas, quase nulas ou, por vezes, frustrantes. Meu maior desejo agora se uma estrela o quisesse conceder ao contemplar, do céu, minha solidão seria um instante apenas um efêmero pulsar como o seu próprio brilho, na noite... Que ela me desse apenas esses segundos Sem consequências ou ilusões E me trouxesse de volta à minha paz! No entanto, inerte e rígido, O astro ouve as minhas súplicas E ri-se; bem sei a razão: "Tolo ser humano! Acaso pensa que subsistirá, ileso, a essa armadilha da emoção? Mil infortúnios podem passar esses seres, mas nunca aprendem; o que lhes domina é o coração!" //S.L., 09 fev. 2010

Grávido de pai

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Quando alguém se torna pai ou mãe, passa a ter uma nova sina: esperar. Espera pelo nascimento do filho, pelo seu primeiro choro, pelo abrir de seus olhos, pelos seus primeiros passos, por seu balbuciar "mamã" ou "papá"... O filho, por sua vez, sente apenas em parte o mundo à sua volta e as expectativas lançadas sobre ele antes mesmo de seu nascimento. Sua vida é receber: carinho, sons, calor, alimento...; enquanto a dos pais é sempre se desdobrar em mil. por puro amor, para dar tudo ao filho. Por essa razão, talvez, é que os filhos nunca se lembrem de ligar, enquanto os pais não dormem antes de receber uma única nóticia alentadora que seja. Deve ser também esse descompasso temporal de expectativas o motivo pelo qual o filho de conforma, após algum tempo, com a morte dos pais, enquanto um pai ou uma mãe jamais falam sem lágrimas nos olhos de um filho que partiu. Mas e se fosse o contrário? E se o filho é que tivesse sempre de esperar pelos pais, cuidar deles e guarda...

. música de Legião [e tão minha!]

Achei um 3x4 teu e não quis acreditar Que tinha sido há tanto tempo atrás Um exemplo de bondade e respeito Do que o verdadeiro amor é capaz. A minha escola não tem personagem A minha escola tem gente de verdade Alguém falou do fim do mundo, O fim do mundo já passou Vamos começar de novo: Um por todos, todos por um. O sistema é mau, mas minha turma é legal Viver é foda, morrer é difícil Te ver é uma necessidade Vamos fazer um filme. E hoje em dia, como é que se diz: "Eu te amo."? Sem essa de que: "Estou sozinho." Somos muito mais que isso Somos pingüim, somos golfinho Homem, sereia e beija-flor Leão, leoa e leão-marinho Eu preciso e quero ter carinho, liberdade e respeito Chega de opressão. Quero viver a minha vida em paz. Quero um milhão de amigos Quero irmãos e irmãs Deve de ser cisma minha Mas a única maneira ainda De imaginar a minha vida É vê-la como um musical dos anos trinta E no meio de uma depressão Te ver e ter beleza e fantasia. E hoje em dia, como é que s...
'Hoje eu desafio o mundo sem sair da minha casa Hoje eu sou um homem mais sincero E mais justo comigo (...) Não se trata de coragem Mas meus olhos estão distantes Me camuflam na paisagem Dando um tempo, tempo, tempo Pra cantar Me deixa, que hoje eu tô de bobeira Bobeira' Mundo vasto, mundo louco Onde ninguém é de ninguém Onde o vazio dá lugar ao oco Onde a razão está para aquém Mundo duro, mundo tirano Se hoje juro a alguém que o amo Amanhã já não saberei quem é Amanhã será outro dia; até! Hoje gosto de você Amanhã não gosto mais 'Hoje, preciso de você' Amanhã não preciso mais Hoje sou seu amigo Amanhã não serei mais Hoje estou aqui contigo Amanhã não estarei mais E o que terá restado? 'terra, cinzas, pó, sombra e nada'? Qual a razão para tudo ter sido como foi? Será um dia revelada? Não posso morrer sem saber Por que amei e não fui amada Não posso viver sem saber Se um dia serei encontrada E resgatada Do meu navegar sombrio ................... Pelos mares da .....