Suba a minha oração perante a vossa face como incenso, e as minhas mãos levantadas sejam como o sacrifício da tarde. {Salmos 141:2}

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Grávido de pai


Quando alguém se torna pai ou mãe, passa a ter uma nova sina: esperar.
Espera pelo nascimento do filho, pelo seu primeiro choro, pelo abrir de seus olhos, pelos seus primeiros passos, por seu balbuciar "mamã" ou "papá"...

O filho, por sua vez, sente apenas em parte o mundo à sua volta e as expectativas lançadas sobre ele antes mesmo de seu nascimento. Sua vida é receber: carinho, sons, calor, alimento...; enquanto a dos pais é sempre se desdobrar em mil. por puro amor, para dar tudo ao filho.

Por essa razão, talvez, é que os filhos nunca se lembrem de ligar, enquanto os pais não dormem antes de receber uma única nóticia alentadora que seja. Deve ser também esse descompasso temporal de expectativas o motivo pelo qual o filho de conforma, após algum tempo, com a morte dos pais, enquanto um pai ou uma mãe jamais falam sem lágrimas nos olhos de um filho que partiu.

Mas e se fosse o contrário? E se o filho é que tivesse sempre de esperar pelos pais, cuidar deles e guardar memórias que os pais esqueceriam?

Isso é tão comum que nem precisa ser inventado. Acontece provavelmente todos os dias, quando uma criança recebe a notícia de que está prestes a ser adotada.

Tal qual uma mãe quando descobre que espera um bebê, essa criança fica com o coração cheio d ansiedade. Ambas imaginam como será a família que está para surgir. A mãe imagina como será o rosto do seu filho, pensa em um nome para ele... Com a criança do orfanato, acontece algo semelhante: ela sonha com o rosto do pai, pergunta-se como ele deverá se chamar...

A mãe lembra para sempre dos meses de espera e de preparação para a chegada do nenê; a criança órfã jamais esquece os anos passados sob cuidados coletivos, de caridade e não de amor.

E depois que passa o longo período de espera - gestação ou adoção - a mãe e a criança órfã recebem a dádiva de amor naquela nova pessoa em sua vida, e ambas compreendem o valor profundo dessa experiência, quando vivenciada em plenitu

- Jorginho, você está aí?
- Estou, Irmã. O que foi?
- Ah, você está aí, escrevendo... - disse a freira ao ver o rapazinho só, no amplo refeitório. - É uma carta para sua futura família?
- Quase isso, Irmã...
- Esse Jorge, desde que soube que vai para um novo lar, vive com a cabeça nas nuvens...
- É, irmã Eunice, acho que estou grávido de pai...!




//Teresina, 26/01/10