terça-feira, 21 de setembro de 2010
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quarta-feira, 15 de setembro de 2010
Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança:
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança:
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem (se algum houve) as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.
E afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto,
Que não se muda já como soía.
Luís Vaz de Camões, em "Sonetos"
domingo, 5 de setembro de 2010
Leitura póstuma dos poetas sempre vivos
Assombra-me um arrepio
Ao ouvir dos versos a música,
Neste sarau tardio,
A soar sua beleza súbita
Opera-se mágica tal
Quando se encontram palavra e voz
Que subleva-se calor irreal
Entre os poetas lidos e nós
Homenagem tão grande é esta leitura
Que não podemos adivinhar-lhe a glória
De revelar a mais perpétua das honras
A qual dá-se, em secreto, nesta hora
Pois não habita em um nome
Pomposo, em ouro, num livro a luzir
Mas apenas na alma de um homem
Que, ao ler o poema, pôde sorrir...