Suba a minha oração perante a vossa face como incenso, e as minhas mãos levantadas sejam como o sacrifício da tarde. {Salmos 141:2}

sexta-feira, 3 de abril de 2020

Naquele jardim secreto





















Naquele jardim secreto
Onde éramos só tu e eu
Ali eu quisera encontrar-te
Ali eu quisera ouvir-te

Continuamente te esperava
No silêncio das manhãs
No romper da alva
Eram esperanças vãs
Pois ali não entravas

Eu quisera tantas vezes
Preencher-te de palavras
Continha-me com dizeres
Nos dias que mal rezavas

Nas tempestades e tormentas
Ali nunca te abrigavas
Como se te esquecesses
Por teus caminhos erravas

E quando tudo restou vazio
Eu ainda estava ali
Foi quando raio luzidio
Encontrou espaço em ti

Pétalas foram, pouco a pouco,
Se abrindo em teu coração,
A todo o passado mudo e mouco,
Dando ouvidos só à razão

Bétulas, flores, tudo em torno
Ajustava-se à criação
E logo já eras jardim de novo
Canal de luz e irradiação

Assim tens sido jardim regado
Meu rio de vida passa por ti
A tua sede tens saciado
E tu a outros sacias por mim

Agora sabes que o jardim secreto
Onde somos só tu e eu
É onde habito-te por completo
Onde já não te busco, te sou.

Renata Ribeiro

2 comentários:

  1. Minha dileta amiga, ler-te novamente após tantos anos de nossas “brincadeiras” em versos é como um voltar a casa primeira: abrigo da matéria pura e bruta de onde nos motivamos e originamos. Tentarei ser o mais breve e direto possível. Em “Naquele Jardim Secreto” transmite um lirísmo delicado e devoto, prenhe de esperanças. Um eu-lírico que fala inicialmente todo no “imperfeito’ (éramos, esperava, eram, rezavas), a ação que seria consequente da outra que não aconteceu, como nos diz esse modo verbal, é a chegada (ou o despertar, ou ainda a consciência) de um amado. Que em tempo mais-que-perfeito já “quisera encontrar e ouvir”. Ambos os modos nos remetem à tempos famulares, como num conto de fadas. A primeira vez que usa ao presente perfeito é quando aparentemente seria tempo de desistir, pois “restou vazio”, mas tal qual a amiga das cantigas provençais ainda está lá, fiel a se confessar com seu jardim (que se sabe potencialmente Éden porvir). Não que o amado estivesse ausente em absoluto deste Pré-Éden, apenas parece que não enxergava até que o “raio luzidio Encontrou espaço em ti”. Então o Jardim floriu, e deixou-se “o passado mudo e mouco,”. Termina usando o tempo presente pois “Agora somos.” Jardim, amantes e enlace dessas almas que retroalimenta-se consubstanciam-se em Verbo Divino no arremate do poema. Dando um caráter mitopoético a sua aventura.
    Abraços,
    Gladson Fabiano de Andrade Sousa,
    (responda por aqui, voltarei)

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    1. Foi uma grata surpresa o teu comentário, pois eu pensava que tivesses te esquecido do meu pedido de leitura e da nossa amizade tão literária. Essa casa primeira nunca deixará de ser nosso lar :) Também não esperava uma análise tão detida e completa do texto, mas fiquei muito feliz por ter conseguido me fazer entender. Foi assim mesmo que eu pensei quando fiz o poema... =) Obrigada pela leitura, espero ler teus textos também em breve - vi teu nome em uns concursos literários, pode me mostrar os textos! Bora! kkk

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