A magia dos livros
Quando eu era pequena, vivia perdida no meio dos livros dos
meus pais e primos. Antes mesmo de ser alfabetizada, eu já lia muito: explorava
cada lombada, com suas letras brilhantes e de diferentes formatos; cada capa,
preferindo, como é óbvio, as coloridas e cheias de desenhos... Descobria no
desenho de cada letra um bichinho ou objeto, desenhando no vão de cada letra um
coração. Outras vezes, simplesmente coloria-os, ou transformava-os em carinhas
felizes. As letras eram meus brinquedos favoritos.
Certo dia, ganhei um livro que vinha com uma fita cassete.
Foi uma revolução! Agora, mesmo que ninguém pudesse ler a história para mim, eu
podia ouvi-la, e melhor: acompanhar com os meus olhos cada vez que o som ia
passando pelas palavras. Foi assim, associando as figuras, os sons e as letras
daquelas histórias, que eu aprendi a ler (com a ajuda da escola, é claro!). Daí
para frente, nunca abandonei minhas amigas letrinhas e fui descobrindo diversos
mundos e almas irmãs da minha por meio delas. Só depois de “grande” é que
entendi, contudo, que não fui eu que nunca as abandonei. Elas é que possuem uma
mágica, um segredo, que domina pessoas um pouco mais sensíveis. E essa magia
não só nos prende, mas nos conduz entre os livros.
Quem nunca teve a estranha sensação de estar lendo o livro
exato, no momento exato da sua vida? Eu, pelo menos, já; muitas vezes. E aquele
livro que você leu quando criança e voltou às suas mãos na idade adulta,
fazendo todo o significado? E naquele dia em que você foi buscar um livro na
biblioteca e voltou com outro que, não se sabe por que, apareceu no seu
caminho?
Tudo isso é fruto da ação misteriosa das letras. Este é um
modo bem simplista de dizer o que na verdade é profundamente inefável, pois as
letras, em si, não detêm poder algum. A energia que elas transmitem vem de
muito longe... Primeiro, vem de um autor. Este autor escreve movido pelo quê?
Provavelmente, nenhum escritor no mundo é capaz de explicar objetivamente a
razão pela qual escreve; principalmente no momento em que se inspira. É a
pergunta mais detestada pelos escritores: “como é o seu processo criativo?” É o
mesmo que perguntar “como explicar o mistério?”.
Se o autor não consegue explicar a origem de sua criação, é
provável que ela não resida nele. Onde, então? Será uma entidade que vagueia
pelo universo, tomando posse de certos indivíduos? Serão diversas entidades?
Será um tipo de inteligência que se manifesta apenas em algumas pessoas? Será o
resultado de um treino que às vezes passa despercebido? Serão vozes de deuses
que nos ditam o que escrever, sem que nos demos conta? Serão anjos? Serão
demônios?
A História, a Crítica, a Arte, a Literatura... Estão todos
buscando essas respostas. Houve tentativas científicas de se isolar a
literariedade. Houve quem idolatrasse os Gênios literários. Houve quem dissesse
que o poeta é um operário como qualquer outro. E a intuição continua aqui, nos
fazendo amar aquela determinada união de palavras e nos convidando
irresistivelmente a ler aquele livro na estante...
Renata Ribeiro
Amei o ler esse pequeno texto. Vejo o tamanho da graciosidade que é gostar de ler. Parabéns pelo texto!❤️��
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