Tenho pensado sobre a minha relação com o celular e percebi que o problema vai muito além das redes sociais: a nossa vida toda tem sido mediada pela tecnologia, a ponto de afetar os nossos pensamentos e a nossa percepção das coisas ao redor. Até que ponto isso será inofensivo? Tudo bem, é muito prático pagar as contas por um clique em vez de imprimir um boleto e ir até uma agência. Mas será que essa praticidade não nos faz perder a noção do dinheiro? Por vezes me pego pensando que sim. Não temos mais a real noção de quantia devido à falta de volume em nossas mãos, à falta de materialidade. E isso acontece com diversas outras coisas em nossa vida cotidiana: trocar mensagens com amigos em vez de ligar ou conversar pessoalmente, enviar e-mail em vez de se demorar em uma reunião, tirar foto de algo e postar em vez de mostrar para alguém que está ao lado, interagir com pessoas distantes ou até desconhecidas em vez de dar atenção a quem está presente. Nem estou falando das outras mil pe...
Neste tempo quaresmal, não poderia ter sido melhor o livro que tinha em mãos: As Crônicas de Nárnia (O Leão, A Feiticeira e O Guarda-Roupa), de C. S. Lewis. Eu já tinha assistido à adaptação para o cinema - e gostado muito -, mas não havia reparado nas analogias cristãs presentes na obra e foi com esse olhar que percorri as suas páginas. Ele é encantador desde a dedicatória à afilhada do autor, Lucy Barfield - o que não deve ser mera coincidência com a personagem homônima, Lúcia. Lewis explica que escreveu o livro para ela, mas que o processo de escrita e edição levariam tanto tempo que ela só o teria em mãos quando já fosse crescida. No entanto, é justamente aí que o autor mesmo sugere que não se trata de leitura apenas para crianças: "um dia virá em que, muito mais velha, você voltará a ler histórias de fadas. Irá buscar este livro em alguma prateleira distante e sacudir-lhe o pó. Aí me dará sua opinião." Eu, apesar de não ter sido chamada, darei meu humilde parecer....
Diz o ditado que sempre fica um pouco de perfume nas mãos de quem oferece flores. Nas mãos de quem é mãe, isso se torna bem concreto, pois passamos o dia com o aroma do tempero que usamos na comida da família exalando em nossos dedos. E tudo o que tocamos durante o dia carrega esse rastro de carinho, de uma oferenda de amor que foi feita logo cedo para que todos fossem nutridos. Quem nos encontra na rua não sabe que nossas mãos cheiram a tempero; não sabem que em casa há um serzinho nos esperando, que depende de nós. Mas nós sabemos, sabemos que nossas mãos cheiram a alho, a cebola, a cuidado, a amor. Por isso, ganhamos mais força de correr atrás, lá fora, para que fiquemos ainda mais bem alimentados aqui dentro. Que o nosso alimento de cada dia seja temperado com dedicação, zelo e boa vontade.
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