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Mostrando postagens de setembro, 2010

Escreva

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Quando se escreve, às vezes é preciso abrir mão de tudo e simplesmente ordenar-se: - escreva! Comida no forno, trabalho por fazer, hora de dormir, o que seja; o maior pecado do escritor é resistir ao imperioso chamado da pena. Mas escrever sobre o quê, ele logo se pergunta. Parece que o ato de escrever sempre tem de ter um porquê e um sobre o quê, além dos execráveis e dolorosos como e com que fim (nos dois sentidos da palavra "fim"). O próprio impulso da escrita é tão voraz e inacessível que por vezes se torna impossível pausar-lhe, fazer-lhe qualquer dessas perguntas; o máximo que se consegue é seguir-lhe o rastro, no ritmo sempre atrasado do lápis sobre o papel, da luta retardada entre a coordenação da mão e a do pensamento. "Lutar com as palavras é a luta mais vã", já dizia o nosso nobre guerreiro (e vencedor) Carlos Drummond de Andrade. O guerreiro da palavra é talvez o menos nobre e mais ensanguentado, pois sua arma fere não só os outros, mas ele mesmo, enquan...

Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades

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Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, Muda-se o ser, muda-se a confiança: Todo o mundo é composto de mudança, Tomando sempre novas qualidades. Continuamente vemos novidades, Diferentes em tudo da esperança: Do mal ficam as mágoas na lembrança, E do bem (se algum houve) as saudades. O tempo cobre o chão de verde manto, Que já coberto foi de neve fria, E em mim converte em choro o doce canto. E afora este mudar-se cada dia, Outra mudança faz de mor espanto, Que não se muda já como soía. Luís Vaz de Camões, em "Sonetos"

Leitura póstuma dos poetas sempre vivos

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Assombra-me um arrepio Ao ouvir dos versos a música, Neste sarau tardio, A soar sua beleza súbita Opera-se mágica tal Quando se encontram palavra e voz Que subleva-se calor irreal Entre os poetas lidos e nós Homenagem tão grande é esta leitura Que não podemos adivinhar-lhe a glória De revelar a mais perpétua das honras A qual dá-se, em secreto, nesta hora Pois não habita em um nome Pomposo, em ouro, num livro a luzir Mas apenas na alma de um homem Que, ao ler o poema, pôde sorrir...