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Mostrando postagens de junho, 2010
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Meus olhos só podiam ser castanhos Pois sou eu toda tão castanha, Tão comum E ao mesmo tempo, tão estranha Que outra cor, ao me fitarem, Não poderiam encontrar Senão a mais comum de todas Porém profunda e forte Como um sulco na mais antiga árvore De tronco retorcido.

separação

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Há um quê de beleza na separação Não sei por que a surpresa A vida é partida e chegada Nisto reside a sua beleza Acaso há olhar mais lânguido Do que aquele que, ansioso, Vê o amado, indiferente, passar? Há, porventura, cena mais comovente Que uma moça na janela a chorar? Na ausência mora algo de delicado Uma súbita revelação do ser que habita O mais profundo da alma Este ser que tudo perscruta e tudo conhece Que já pressentia a partida Muito antes que acontecesse

Anamorfose - ou não

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Era uma tarde chuvosa e pouco importava que alguns - principalmente crianças, sempre elas! - enfrentassem a tempestade, ela não ia arredar pé daquela mercearia. Mas logo agora, essa chuva? Não podia haver outra hora para os céus chorarem a tragédia que veem lá de cima? Ana não viu outra saída senão desacelerar seus passos, seus pensamentos (sempre tão frenéticos) e simplesmente parar embaixo do toldo da venda. O tempo - o secreto inexprimível, que não se sabe quem inventou: Deus ou o homem - revelou então sua mistura pastosa com o espaço: eis a relatividade, diante dos seus olhos! Crianças correndo e gritando na rua, trovões, um caminhão parado, xampus, balinhas, ração para gato. Os olhos de Ana passeiam para lá e para cá; às vezes encontram outros olhos e logo fogem, sem encontrar ponto onde se fixar. Ana começa, então, a ler rótulos, para não sentir o agudo pulsar do tempo passando lento... Chegam algumas pessoas no mercado, também tentando se abrigar do temporal. Alguns têm...