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Mostrando postagens de abril, 2009

Eu - Florbela Espanca

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Eu sou a que no mundo anda perdida, Eu sou a que na vida não tem norte, Sou a irmã do Sonho, e desta sorte Sou a crucificada... a dolorida... Sombra de névoa tênue e esvaecida, E que o destino amargo, triste e forte, Impele brutalmente para a morte! Alma de luto sempre incompreendida!... Sou aquela que passa e ninguém vê... Sou a que chamam triste sem o ser... Sou a que chora sem saber por quê... Sou talvez a visão que Alguém sonhou, Alguém que veio ao mundo pra me ver, E que nunca na vida me encontrou!
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Há dias em que eu me canso de mim mesma Me canso de ser eu Parece que em meu corpo Não mais cabe minh'alma Ela se aperta, se ajeita Até encontrar um meio incômodo De parecer feliz Há dias em que eu queria Engolir o sol Pra que ele não me queimasse Com seu olhar vigilante Nem me ofuscasse Com tanta luz Quando eu prefiro a escuridão Há dias em que simplesmente Não caibo em mim Aí descubro, enfim Que a poesia alargou-me o ser E que esta perturbação É a penitência dos filósofos É a santificação dos poetas.

Com licença poética - Adélia Prado

Quando nasci um anjo esbelto, desses que tocam trombeta, anunciou:vai carregar bandeira. Cargo muito pesado pra mulher, esta espécie ainda envergonhada. Aceito os subterfúgios que me cabem, sem precisar mentir. Não sou feia que não possa casar, acho o Rio de Janeiro uma beleza e ora sim, ora não, creio em parto sem dor. Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina. Inauguro linhagens, fundo reinos — dor não é amargura. Minha tristeza não tem pedigree, já a minha vontade de alegria, sua raiz vai ao meu mil avô. Vai ser coxo na vida é maldição pra homem. Mulher é desdobrável. Eu sou.